DOMINGO DE RAMOS: “SIGAMOS OS PASSOS DE NOSSO SALVADOR”

DOMINGO DE RAMOS:
“SIGAMOS OS PASSOS DE NOSSO SALVADOR”

Pe. Francisco Inácio Vieira Junior*

Com o Domingo de Ramos da Paixão do Senhor começamos a Celebração da Páscoa. Essa celebração nos coloca na atmosfera da Semana Santa, dos acontecimentos da última semana de Jesus em Jerusalém, a qual se revelou o ápice da Sua vida terrena e o coração da Sua missão divina. Ao povo fiel vem dada a oportunidade de imergir a própria existência no mistério da Paixão, morte e ressurreição de Jesus. Não se trata, portanto de uma simples recordação, mas da celebração memorial dos mistérios que nos trouxeram vida nova. 
A celebração de hoje foi moldada por duas antigas tradições: a procissão e a leitura da Paixão. Nela se entrecruzam alegria, ao ver o Senhor entrar em Jerusalém, e compaixão, ao ver o Senhor morrer por amor. Jesus entra em Jerusalém para morrer na Cruz: “Bendito seja o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas alturas!” (Lc 19,38). Jesus encarnou a imagem de um Deus diferente e distante da imaginação triunfalista: um Deus frágil e impotente diante da injustiça. A Liturgia ensina-nos que o Senhor não nos salvou com uma entrada triunfal nem por meio de milagres prestigiosos, mas aniquilando-se a si mesmo. Ele renunciou à glória de Filho de Deus e tornou-Se Filho do homem, solidarizando-Se em tudo conosco, vivendo numa “condição de servo”: não de rei, nem de príncipe, mas de servo. 
Existia um contexto de espera da parte de vários grupos pela realização messiânica. Entre eles, os discípulos de Jesus que possuíam um protótipo de messianismo, de reinado muito distante do dinamismo humilde do servo sofredor e obediente aclamado triunfante sobre um simples “jumentinho” (Cf. Lc 19, 35). Será um Messias que reina da cruz. 
Para explicitar a entrega obediente de Cristo, nesta semana, os quatro cânticos de Isaias acompanharão a Igreja até a Sexta-Feira Santa: Is 42,1-7 (segunda-feira santa), Is 49,1-6 (terça-feira santa), Is 50,4-9 (quarta-feira santa) e Is 52,13- 53,12 (Sexta-Feira Santa). Para além dos textos bíblicos e eucológicos deste domingo, uma fonte abundante de teologia litúrgica, portanto de espiritualidade, um gesto se destaca: a procissão solene com a qual se comemora a entrada do Senhor em Jerusalém (Pashcallis Solleminitatis, 29).
Já sabemos que no universo do rito, componente indispensável na celebração, nenhum gesto pode ser desconsiderado. Tudo está em sintonia. Por menor e mais simples que nos possam parecer, os gestos são sempre eloquentes e manifestam uma verdade que é professada seja verbalmente que gestualmente. A procissão de Domingo de Ramos torna-se um desses gestos humanos (caminhar) que em contexto celebrativo, assume valência de signa, e expressa um significado nos colocando em relação direta com o evento salvífico.
A monição que introduz a primeira forma: procissão solene, usa o verbo imitar (imitemur). O caráter mimético não esvazia a força memorial do gesto que para maior vivência deveria ser feito “antes da missa com maior afluência de povo (...) numa igreja menor ou noutro lugar adaptado, fora da igreja para a qual a procissão se dirige” (Pashcallis Solleminitatis, 29). A procissão litúrgica deste dia não é um simples aparato ritual.  
A imagem é eloquente: o povo de Deus em statio (parada), escuta a Palavra de Deus, se põe em caminho, com ramos nas mãos e vai aclamando: “Hosana nas alturas (I antífona), Bendito o que nos vem (II antífona) ou Glória, louvor, honra a ti (Hino a Cristo Rei). As várias versões dos cânticos desta procissão deveriam expressar a mesma realidade. O caráter aclamativo está associado à glória de Cristo crucificado. A leitura da paixão do Senhor que dá título também a este domingo, se reveste de particular expressividade. Seu significado está presente já na antiquíssima oração do dia (Sacramentarium Gelasianum Vetus, XXXVII, 329): “...para dar aos homens um exemplo de humildade, quisestes que o nosso Salvador se fizesse homem e morresse na cruz. Concedei-nos aprender o ensinamento da sua paixão e ressuscitar com ele em sua glória”.

* Presbítero salesiano, provincial da Inspetoria São Luis Gonzaga, mestre em Sacra liturgia pelo Pontifício Instituto Litúrgico (Roma) e membro do Centro de Liturgia Dom Clemente Isnard. 
Fonte: http://centrodeliturgia.com.br/domingo-de-ramos-sigamos-os-passos-de-nosso-salvador/ 

 
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